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quinta-feira, 31 de março de 2011

Os invisíveis

Há uma série de coisas e pessoas que são invisíveis aos nossos olhos. Quantas coisas estão diariamente em nossos caminhos e não reparamos. Tem gente que passa por jardins e sequer nota se estão bem cuidados. Um dia, olhando com mais serenidade, observei que no jardim que eu tanto gostava de olhar, havia plaquinhas com recadinhos para os transeuntes. Uma delas trago na memória, pura reflexão do que sinto: “Colha-me somente com os olhos!”. Seja quem for que criou essa frase, as flores e os jardins agradecem.

Mas há situações que pedem que colhamos com os ouvidos, então, presto minha homenagem aos mais injustiçados invisíveis: os músicos.

Sempre que vou a shows, reparo no quanto o público aplaude os cantores, e, quando os músicos enfim são apresentados, geralmente é um leve claudicar, sem muito entusiasmo. Mesmo quando se presencia o som de uma orquestra, é ao maestro que agradecemos e o burburinho da saída sempre se ouve: esse maestro é fantástico. Sinto como se todos aqueles músicos fossem transparentes, porque na verdade é o maestro que, com sua incomum capacidade, colocou todos aqueles instrumentos em harmonioso compasso. Os anos de estudos e luta de cada instrumentista é como a tinta de caneta daquele tipo que some em instantes.

Há anos penso nisso a cada apresentação e tenho vontade de perguntar a cada músico sobre sua história com suas bateras, guitarras, violas, contrabaixos, violinos, pianos, cuícas, flautas, saxofones...

O solo de um instrumentista é tão prazeroso aos ouvidos quanto a capela de um cantor, mas é raro guardarmos na memória o nome dessa fera, sequer reparamos no quanto eles se entregam aos seus instrumentos.

Não sei quantos deles conseguirei retratar, mas agora começo as muitas linhas que quero escrever sobre esses invisíveis músicos. Se eles não quiserem dar entrevista, não faz mal, o Frank Sinatra também não deu ao Gay Talese, mas seu retrato em “Frank Sinatra está resfriado” não poderia ter sido mais verdadeiro.

Vou começar com pandeiristas, porque esse batuque me enlouquece, fico doida para roubar o pandeiro e fazer igual. Mas cadê categoria? E ritmo, então? Não tenho nenhum, o jeito é deixar na mão do Douglas Alonso ou do Pedro Miranda mesmo. O Douglas toca outras coisas de percussão também, mas quando a Fabiana Cozza o chama do ladinho dela, lá vem ele com o pandeiro esmerilhar e humilhar essa pobre criatura sem ritmo. E o tal Pedro Miranda, que acompanha a Teresa Cristina, não faz menos bonito.

Há diferenças, afinal nem irmãos gêmeos são iguaizinhos, imagina músicos. Douglas parece ser mais tímido, chega de mansinho, já Pedro chega cheio de salamaleques cantando “Um calo de estimação” junto com Teresa, arrancando risos da plateia. Confesso que não sei avaliar quem é o melhor, só sei que poderia ficar horas ouvindo esses dois batucando em seus pandeiros.

sábado, 26 de março de 2011

Palavras em ritmo de samba


Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, pior ainda aquele que me diz não se encantar com a voz e o charme de Fabiana Cozza.

Dizem por aí que um bom jornalista não deve emitir sua opinião, então, acabo de desvestir o personagem de jornalista e virar apenas a Degustadora de Palavras em forma de notas musicais.

Então, vou contar um segredo de degustadora, a primeira vez que vi essa “Cozza nostra”, me apaixonei. Comecei a acompanhar seus shows, principalmente no Sesc, mas a vi em outros locais também.

Não bastasse ser dona de uma poderosa voz, quando ela sobe ao palco não há espaço para distração, os olhos ficam agitados a observar seus movimentos e nossos pés vão no embalo de todos os sambas.

Ontem, para nossa surpresa, ela mandou um Sarará Crioulo e lógico que os pés continuaram entrando no ritmo de Fabiana, essa “Cozza”! Que me perdoe a Sandra Sá, mas “Olhos Coloridos” na voz de Fabiana foi simplesmente inesquecível e inebriante.

Outro segredinho, eu já tive o prazer de entrevistar “essa Cozza” e sai ainda mais apaixonada pela simplicidade, pelo jeito de ser, de se comunicar e colocar como ser humano e artista. Deve ter sido cerca de uma hora de conversa, mas eu teria ficado muitas horas proseando e ouvindo ela contar “seus causos”. O resultado dessa prosa foi pulicado na revista Ocas”, Edição nº 70 – Março/Abril 2010. Lógico que quem quiser degustar essa prosa terá que comprar a revista, que por sorte ainda não se esgotou, é só entrar em contato via e-mail atendimento.ocas@gmail.com e pedir para a Thaís dar a dica de como adquirir essa obra de arte que é a Fabiana Cozza e aproveitar as demais reportagens da revista Ocas”, porque é uma revista de qualidade, eu garanto.

Nem vou contar mais nada dela, mas ontem minha amiga Ny também ficou apaixonada por ela, por todos os sambas que dançamos sem descanso e pelos fabulosos músicos que a acompanham.

Por falar em músicos, sempre me encanto com seus dotes seja no batuque, no teclado ou nas cordas, são muitos detalhes, nem vou falar aqui sobre eles, reservarei um post só para eles, mas tenho que deixar uma leve reclamação para a Fabiana: - ontem senti falta do solo de pandeiro do Douglas. Mas saindo das vestes de reclamona para degustadora, aqueles solos de sax foram muito bons, mas esqueci o nome do dono dessa parte do show. - Perdão moço, mas você é muito bom, prometo achar seu nome e não esquecer mais, como não esqueço o do Douglas, que aliás, mudou o visual e está um gato.

Bom, degustei: palavras, sambas e Fabiana Cozza, você já escreveu para atendimento.ocas@gmail.com e comprou o seu exemplar? Não? Se esgotar, azar o seu, perderá a degustação.

Ah! SE quiser saber mais dessa edição da revista, clique aqui: http://blogdaocas.blogspot.com/2010/04/ocas-70-marcoabril-2010.html

sábado, 19 de março de 2011

o que é isso?

Caiu
quase no mesmo espaço
sem mapa
tocou
sob as mãos, o traço
a curva
o delírio

respiro
suspiro
recolho desejos...
ponho em pensamentos
os momentos que ainda vou viver
viajo
reitero desejos
perverso medo
do que não vai ser

PS) Adoro poesias, mas confesso que escrevi muito poucas. Todas sem me preocupar com a forma, eram só palavras que jorravam... Essa acima nem tem nome, se deixei um título acima, na verdade é porque pergunto aos leitores, que raios de tempestade foi essa que me assolou e vira e mexe ainda vem escurecer meu céu!

Mas penso também que minhas palavras podem ser interpretadas de outra forma, de acordo com o sentimento de cada um, então, fiquem a vontade para degustar cada um a sua moda.

quinta-feira, 3 de março de 2011

DIVERSÃO BREGA

Há quem acredite ser impossível divertir-se com um simples passeio no parque mais próximo da sua residência, mas há controvérsias. Não acreditam? Pois experimentem. Basta caminhar e, além da visão, utilizar outro sentido, que deve ser o mais apurado, o da observação. Recomendo ainda aproveitar e usar mais um de seus sentidos, o da conclusão, fictícia, mas por que não?

Cada figura, uma caricatura!

Lá vai o coroa com suas madeixas ruivas, provocam até ardor nos meus belos olhos sensíveis. Shortinho de garoto, camiseta coladinha (sabe aquele tipo que os machos malhados de academia adoram?) e seu sexi olhar 43 (num pézico 35). Corre também com os olhos, nem radar pega tão bem quanto a mira desse tipo. Lógico que cada olhar é um convite ao flerte. Inverno, muito vento, nem pensar que ele estará lá, afinal suas madeixas, à la escovinha, nem pensar em desmanchar!

Gentem! Que figura! Donde surgiu isso? Será que é o coroa disfarçado, escondendo suas madeixas do vento? Não, trata-se apenas de outra figura inesquecível. A roupa até que é bem normal para um senhor, mas o gorro e o cachecol me rabiscam no pensamento o cãozinho ¨Rabugento¨, se bem que o ¨Rabugento¨ nunca usaria um cachecol cor-de-rosa, nem eu gosto disso! Será que esse ser sabe que está usando um cachecol cor-de-rosa? Mentalidade machista eu? Nem pensar, mas com certeza um senhor teria. E esse gorro! Só para completar o ¨visú¨ tem como detalhe ¨fashion¨ as orelhas do Snoopy?

Desfile do bonitão, pena que camufle seu medo com aquela cadela enorme a seu lado. Aliás, que raça será essa felizarda? Por um dono tão charmoso, até eu queria ser levada presa a uma coleira! Mas ele não a deixa livre nem por um minuto, leva-a ao parque para sentir-se seguro e incomunicável, no máximo um ¨oi¨ de longe, nada de relacionar-se. Talvez esse deus grego tenha se cansado de tantos assédios acintosos de mulheres que só o enxergam como um belo objeto, portador de uma ¨Blaser¨.

E esse povo que joga essa coisa esquisita que mesmo observando horas, ninguém consegue entender. Um silêncio sepulcral no campo, todos concentrados para sei lá o quê. Vestes brancas... Será que são médicos que estão operando a terra? Que raios! Sei lá se são japoneses, chineses, coreanos, sei que são qualquer coisa do oriente (nada contra)! Além do boné na cabeça, há um pano, tipo toalha em baixo do boné... Coisa de ¨sheik¨! Mas ¨sheik¨ não é árabe? Nossa! Esse exagerou: boné de algodão, sabe aqueles de propaganda de empresa? Pois é, nada demais, mas acho que o gato de estimação morreu e ele, em homenagem póstuma, circundou com seu rabo esse bonezinho.

O tio devia fazer uns dois anos que não vinha visitar a família, aproveitou as férias e veio matar a saudade. Quer recuperar o tempo perdido.
― Pô, tio, vamos andar de bike no parque?
― Claro!
O sobrinho cresceu, já anda na Caloi 10 que o próprio tio lhe deixou quando foi trabalhar em outro estado e lógico que o tio tem que andar na Caloi Cross, aro 20! Bela cena, se não originasse uma visão ridícula! O tio no maior sufoco com as perninhas encolhidas tentando pedalar, enquanto o sobrinho se gabando de correr mais, que cretino!

Olha só a gordinha relaxando, fazendo o seu Tai Chi qualquer coisa ou será o tal Lian Gong? Essas palavras que ninguém sabe o que significa, mas diz que faz, dá ¨status¨. Só sei que ela está toda torta, ao invés de relaxar, vai ficar de cama, imóvel, necessitará de acupuntura, do in, reiki ou qualquer coisa que possa reverter o quadro chinês de distorção de técnicas.

Quer coisa mais besta que exibir um cão adestrado? Transporto-me para 1700 e vejo um sinhozinho mandando o cativo tirar suas botas, igualzinho esse fulano, que ordena ao cão que fique deitado. Mais besta ainda é esse povo que admira. Acho que estão com saudade da escravatura!

A caminhada relaxa, energiza, libera toxinas e como não paga nada observar, aproveito para imaginar a história de cada pessoa que passa. É como abrir um livro, uma biografia psicótica dessas figuras.

Sugiro esses passeios para qualquer pessoa que queira divertir-se, espairecer, desanuviar, viajar na maionese, porque relaxa, faz a gente esquecer das nossas paranoias e embarcar na dos outros. Afinal o que será que vai dentro do ruivo daquela personalidade, no interior do coração da mãe dividida e do pai nada participante, debaixo daquele cachecol cor-de-rosa, ao lado da cadela desengonçada, dos ¨sheiks¨ orientais, do tio submisso, da gordinha saudável, do tal sinhozinho poderoso e do pobre cão que se submete às ordens dele?

Essa terapia inovadora funcionará ainda melhor se trocar de ambiente. Aproveite! Conheça todos os parques da cidade! Viaje em muitos livros! Deixe a fertilidade de sua imaginação fluir e quando deparar com alguma cena deprimente, pense o óbvio: como sou feliz. Todo ser humano é um livro, pode não ser um ¨best seller¨, mas dá a sua contribuição para edificação do mundo.

E tem gente que ainda me pergunta o que eu faço no parque... me divirto, oras!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Dividindo heranças brasileiras

Baixou a Cecília Meireles na cabeça hoje... daquelas que invade e vem trazendo tantas histórias. Essa canção não traduz exatamente o que vai em minha alma, mas há frases que parecem feitas para os meus devaneios e, se divido com os blogueiros é para que conheçam um pouco das palavras de uma de nossas poetisas. Boa degustação:

Canção extraordinária
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.