sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Minha voz sou eu... me ouçam

À vezes ela sibila palavras, como se quisesse falar baixinho em meu ouvido e me deixo seduzir. Penetro em sua tristeza e compartilho do seu torpor. Ela grita e meus ouvidos querem mais, aumento o som. Ela canta suavemente e me entrego, compartilho. Aprendo a letra, tento cantar junto, mas ela não deixa... esse momento é dela e eu invado sua intimidade, o suficiente para saber que uma voz como essa já não está mais aqui. Então choro! Choro por não ter tocado em suas mãos no momento de sua angústia. Choro por não estar presente para lhe dizer que milhões de pessoas a veneram e dizer-lhe que ela é mais que uma simples Diva. E, foi em sua solidão que partiu.

Ela nasceu, 19 em janeiro de 1943, numa sólida família de classe média, na cidade de Port Arthur, localizada no Estado do Texas, nos Estados Unidos da América. Com apenas 17 anos já retratava o gosto pelos sons do blues e do folk em pinturas e poesias e levantava aplausos nos bares de Houston e Austin, no Texas. Realizou seu sonho em 1965 e foi cantar na Califórnia, mas em 1966, desempregada, voltou para Austin e cantou em uma banda country por alguns meses. Depois disso, o amigo que se tornou seu empresário, Chet Helms, levou-a para a banda Big Brother, que tocava em San Francisco. E, foi junto dessa banda, que ela conheceu o empresário Albert Grossman, após o show no “Monterey Pop Festival”, em 1967. Quando a platéia ficou extasiada durante sua interpretação para a música “Summer Time”, sendo a seguir contratada pela gravadora Columbia Records. Ela já disparava rumo ao sucesso, cuja sina de ser Diva estava escrita na força de expressão contida em sua voz.

Era a única cantora branca da época que se atrevia a cantar blues feito uma negra, com sua voz rouca e sensual. Debaixo de críticas entusiasmadas e outras nem tanto, o albúm “Cheap Thrills” foi um recorde de vendas.

Em 1969, a comunidade hippie se reuniu no maior de todos os festivais de rock, o “Woodstock”. Janis Joplin marcou seu espaço junto a outros cantores de sucesso como Joan Baez, Santana Joe Cocker, Jimi Hendrix e outros que viviam a era hippie, com suas roupas coloridas, simples e soltas, típicas da geração paz e amor.

Após o sucesso do primeiro LP com os Big Brothers, a gravadora Columbia Records assinou contrato e o álbum Cheap Thrills, com o single "Price of My Heart", conquistou o disco de ouro. Passado um ano, Joplin resolveu deixar os Big Brother, mas participou de algumas faixas do álbum deles, “Be a Brother”, lançado em 1971. Seguia sua carreira, nessa mesma época, com o guitarrista Sam Andrew. Compuseram então a segunda banda, que foi denominada de Kozmic Blues, um de seus sucessos musicais, composta por Janis Joplin e Gabriel Mekler.

Ela possuía tudo aos olhos de quem a via sobre um palco, mas se sentia feia e chegava a considerar sua voz insossa, sem encanto, mesmo uma multidão vibrando em suas apresentações, como revela, na biografia “Love, Janis”, escrita por sua irmã e psicoterapeuta, Laura Joplin.

No momento de enfrentar a platéia ela vestia uma coragem que não lhe pertencia e hipnotizava a platéia, não se contentava se não participassem daquele momento que lhe era tão precioso, onde poderia se encher de rebeldia contra seus próprios sentimentos e soltar a voz.

Comedimento era uma palavra fora do seu vocabulário, ela se entregava ao amor, à música, às drogas, às amizades, numa ânsia desesperada de encontrar conforto. Certa vez sua mãe lhe perguntou porque gritava tanto, sendo que tinha uma voz tão bonita e Janis disparou a resposta: “- Para você sentir o que eu sinto!”, relatou Myra Friedman, companheira de trabalho de Janis durante grande parte de sua carreira, no livro “Enterrada viva”, outra biografia que revela alguns momentos da vida de Janis.
Há quem diga que ela é a rainha imortal do rock, mas no fundo, a espécie de música que ela entoava era algo só dela, não se classificava entre os já conhecidos tipos. Ora ela se envolvia num blues, ora se entregava à alegria do country, ora cantava num tom debochado, ora sussurrava como a dividir segredos. Mas apesar de sua versatilidade musical, na década de 60 Janis era a rainha branca do blues.

A escritora Alice Echols escreveu no livro “Scars of sweet paradise”, que no Brasil foi batizado de “Janis Joplin: uma vida. Uma época”, que Janis queria casar e ter filhos e assim, andava entusiasmada em 1970, falando em se casar-se. Estava cantando com a banda Full Tilt Boogie e ia produzir o álbum Pearl (que era seu apelido). Mas em 4 de outubro de 1970, o corpo de Janis Joplin foi encontrado sem vida com picadas de agulha recentes no braço, num quarto do Hotel Landmark, em Hollywood. A causa da morte foi uma overdose acidental de heroína.

No obituário consta que a injeção fora aplicada pela própria Janis, mas concluía que a morte foi involuntária por aplicação de dose de droga excessiva, mas algumas pessoas e veículos de comunicação interpretaram como suicídio, o que levou o empresário, Jonh Cooke, a ficar indignado, porque não acreditava que ela tenha desejado se suicidar.

Ela morreu aos 27 anos, três meses após a morte de Jimi Hendrix. Foi cremada e realizaram seu desejo jogando as cinzas na costa da Califórnia. Mas sua obra e figura imortal continuou a ser reproduzida em CD´s, filmes, livros, sites, comunidades, revistas, camisetas e jovens que sequer conhecem sua história, fecham os olhos ao ouvir suas músicas, depois saem a buscar resquícios de sua voz pelo mundo. O maior sucesso em sua discografia aconteceu dois meses após sua morte, com o LP "Mee and Bob McGee", como prova de sua imortalidade.

No filme The Rose, gravado em 1979, estrelado por Bette Midler, foi feito um relato de sua carreira, tomando por base o teor do livro “Enterrada Viva”. Atualmente, a atriz Renée Zellweger, que pode ser vista em DVD em “Cinderella Man” traduzido para “A Luta pela Esperança” atuando com Russel Crowe, está sendo sondada para interpretar Janis Joplin, no filme "Piece of My Heart", cinebiografia da cantora, em pré-produção, mas não há nenhum diretor ligado ao projeto, ainda.

Com tantas biografias, filmes e relatos que surgem de fontes diferentes e fidedignas, como da irmã ou da amiga que trabalhou junto a ela, talvez já se possa conhecer um pouco mais de Janis Joplin, mas nunca chegar à real e imortal Janis. Compreender as letras de suas músicas é como desvendar o ser humano escondido em sua voz, porque as músicas de Janis Joplin não foram feitas para serem ouvidas, mas sentidas.

Pós Anos) Publiquei esse texto no site E-Zine Entre Palavras, creio que por volta de 2004, mas o site saiu do ar faz tempo, uma pena, porque era muito bom ver tantas artes reunidas e oriundas de tantos países. Vira e mexe ponho o único CD que tenho da Janis na orelha e ele fica por horas no replay. Ir para a academia, então, ouvindo Janis dá um pique inexplicável. Só sei que ouvi Janis hoje e não foi via CD, nem MP3, me veio aos ouvidos sem estar tocando em lugar algum... Acho que o vento soprou, porque Janis é assim, de vez em quando quer falar com todo mundo. Ela me deu um empurrão e acabei indo ler o pouco que escrevi sobre ela e sua obra e reparto com vocês.

Um comentário:

  1. Legal, Yara. É muito bom conhecer um pouco mais do seu estilo. Muito bom esse texto e me emocionou. Conheço pouco Janis Joplin e até bem pouco tempo atrás nem sabia que era mulher (com esse nome, a gente confunde. hahahaha) Mas, com certeza, sei que foi um ícone daqueles tempos de rebeldia e paroxismos. A partir de hoje, a respeito mais.

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