domingo, 27 de fevereiro de 2011

Paladar aguçado em sonhos

Vinho, esse líquido enebriante que atiça nosso paladar, mas que atinge todos os outros sentidos do ser humano. No silêncio pode-se perceber o estampido da rolha, o mínimo barulho do primeiro gole servido, o elevar da taça para sentir seu aroma, a primeira degustação, o sinal positivo para que o garçom sirva os demais e ele, o vinho, em sua cena triunfal, é levado ao alto para o tilintar das taças e o gole quase que sincronizado de todos, após o tradicional saúde em uníssono. Eu até cerro os olhos ao primeiro gole de vinho, mas não cerraria para admirar as paisagens do país que dá guarida a inúmeras vinícolas na América Latina: o Chile.

Graças a sua geografia privilegiada, além de um solo rico e diversificado, boa parte até pela presença de muitos vulcões; da ausência da filoxera, principal parasita que ataca as videiras; da água pura que desanda da Cordilheira dos Andes, a variação de temperatura durante o dia e o resfriamento a noite, são elementos perfeitos para o lento amadurecimento das uvas.

Em breve estarei naquelas terras, depois de tanto pesquisar sobre o Chile. Mas, para falar a verdade, a maior parte que li sobre vulcões e paisagens, não me fascinam mais que a história do vinho naquela região. E não deve ter sido a toa que no livro “1001 vinhos para beber antes de morrer”, são citados 13 vinhos Chilenos, entre tantos países produtores.

Nem consigo acreditar que a primeira vinícola inspirada em feng shui, foi formada no Chile, com o nome de Montes Folly, em fevereiro de 2005. Folly significa loucura e remete à descrença dos vinicultores por não acreditarem que na região de Colchita em Santa Cruz, a 300 metros de altitude, a uva do tipo Syrah poderia germinar e ainda por cima ser colhida manualmente, durante a noite. Imaginar uma coleta manual hoje, com tanta tecnologia ao dispor é algo inspirador, mas que as uvas assim recebem um tratamento mais delicado e apropriado, isso lá é verdade, afinal uma uva batida, não tem o mesmo paladar que uma in natura e saudável.

Outra vinícola que fiquei curiosa em conhecer foi a Antiyal, do casal Marina e Álvaro Espinoza, porque desde 2007, é a primeira vinícola do Vale do Maipo a usar a energia solar e eólica, além de possuir uma janela que se abre para expor os barris às forças lunares em períodos propícios. Soa romântico imaginar as uvas à luz da lua.

Bom, como ainda não estive lá, nem vou falar mais nada. Prometo que daqui há uns meses contarei mais sobre as sensações que tive ao conhecer a terra de Neruda e tudo que realmente consegui descobrir por lá. Nesse momento foi só um leve odor de uvas em barril que passaram pelo ar que respiro.

5 comentários:

  1. Ridículo eu escrever e eu mesma comentar, mas só quero agradecer ao Filé por mais essa. Uma vez ele me indicou umas músicas e me apaixonei por uma. Dessa vez ele me disse que vai ao Chile e viajamos juntos. Estamos teclando já faz mais de hora... rsrs Essa é pra vc Filé!

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  2. Parabéns por mais um belíssimo texto!
    É muito bom ler o que você escreve...
    Adorei como começou, com uma descrição minuciosa do ato de tomar vinho e depois deixou-se levar pelas expectativas da viagem.
    Muito legal, Yara!
    Sei que não é fácil manter o alto nível dos seus textos e você está de parabéns por manter-se no topo.
    Beijos.

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  3. Obrigada Greghi, nem sei se posso subir num pedestal, acho que ainda tenho muito que aprender, mas é bom saber que há quem curte.

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  4. Yara,
    prima e cumadre querida,adoro seus textos. Que delícia, que leveza. Beijos

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  5. E que delícia ver o cumpadre por aqui. Bjs e obrigada

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