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quinta-feira, 3 de março de 2011

DIVERSÃO BREGA

Há quem acredite ser impossível divertir-se com um simples passeio no parque mais próximo da sua residência, mas há controvérsias. Não acreditam? Pois experimentem. Basta caminhar e, além da visão, utilizar outro sentido, que deve ser o mais apurado, o da observação. Recomendo ainda aproveitar e usar mais um de seus sentidos, o da conclusão, fictícia, mas por que não?

Cada figura, uma caricatura!

Lá vai o coroa com suas madeixas ruivas, provocam até ardor nos meus belos olhos sensíveis. Shortinho de garoto, camiseta coladinha (sabe aquele tipo que os machos malhados de academia adoram?) e seu sexi olhar 43 (num pézico 35). Corre também com os olhos, nem radar pega tão bem quanto a mira desse tipo. Lógico que cada olhar é um convite ao flerte. Inverno, muito vento, nem pensar que ele estará lá, afinal suas madeixas, à la escovinha, nem pensar em desmanchar!

Gentem! Que figura! Donde surgiu isso? Será que é o coroa disfarçado, escondendo suas madeixas do vento? Não, trata-se apenas de outra figura inesquecível. A roupa até que é bem normal para um senhor, mas o gorro e o cachecol me rabiscam no pensamento o cãozinho ¨Rabugento¨, se bem que o ¨Rabugento¨ nunca usaria um cachecol cor-de-rosa, nem eu gosto disso! Será que esse ser sabe que está usando um cachecol cor-de-rosa? Mentalidade machista eu? Nem pensar, mas com certeza um senhor teria. E esse gorro! Só para completar o ¨visú¨ tem como detalhe ¨fashion¨ as orelhas do Snoopy?

Desfile do bonitão, pena que camufle seu medo com aquela cadela enorme a seu lado. Aliás, que raça será essa felizarda? Por um dono tão charmoso, até eu queria ser levada presa a uma coleira! Mas ele não a deixa livre nem por um minuto, leva-a ao parque para sentir-se seguro e incomunicável, no máximo um ¨oi¨ de longe, nada de relacionar-se. Talvez esse deus grego tenha se cansado de tantos assédios acintosos de mulheres que só o enxergam como um belo objeto, portador de uma ¨Blaser¨.

E esse povo que joga essa coisa esquisita que mesmo observando horas, ninguém consegue entender. Um silêncio sepulcral no campo, todos concentrados para sei lá o quê. Vestes brancas... Será que são médicos que estão operando a terra? Que raios! Sei lá se são japoneses, chineses, coreanos, sei que são qualquer coisa do oriente (nada contra)! Além do boné na cabeça, há um pano, tipo toalha em baixo do boné... Coisa de ¨sheik¨! Mas ¨sheik¨ não é árabe? Nossa! Esse exagerou: boné de algodão, sabe aqueles de propaganda de empresa? Pois é, nada demais, mas acho que o gato de estimação morreu e ele, em homenagem póstuma, circundou com seu rabo esse bonezinho.

O tio devia fazer uns dois anos que não vinha visitar a família, aproveitou as férias e veio matar a saudade. Quer recuperar o tempo perdido.
― Pô, tio, vamos andar de bike no parque?
― Claro!
O sobrinho cresceu, já anda na Caloi 10 que o próprio tio lhe deixou quando foi trabalhar em outro estado e lógico que o tio tem que andar na Caloi Cross, aro 20! Bela cena, se não originasse uma visão ridícula! O tio no maior sufoco com as perninhas encolhidas tentando pedalar, enquanto o sobrinho se gabando de correr mais, que cretino!

Olha só a gordinha relaxando, fazendo o seu Tai Chi qualquer coisa ou será o tal Lian Gong? Essas palavras que ninguém sabe o que significa, mas diz que faz, dá ¨status¨. Só sei que ela está toda torta, ao invés de relaxar, vai ficar de cama, imóvel, necessitará de acupuntura, do in, reiki ou qualquer coisa que possa reverter o quadro chinês de distorção de técnicas.

Quer coisa mais besta que exibir um cão adestrado? Transporto-me para 1700 e vejo um sinhozinho mandando o cativo tirar suas botas, igualzinho esse fulano, que ordena ao cão que fique deitado. Mais besta ainda é esse povo que admira. Acho que estão com saudade da escravatura!

A caminhada relaxa, energiza, libera toxinas e como não paga nada observar, aproveito para imaginar a história de cada pessoa que passa. É como abrir um livro, uma biografia psicótica dessas figuras.

Sugiro esses passeios para qualquer pessoa que queira divertir-se, espairecer, desanuviar, viajar na maionese, porque relaxa, faz a gente esquecer das nossas paranoias e embarcar na dos outros. Afinal o que será que vai dentro do ruivo daquela personalidade, no interior do coração da mãe dividida e do pai nada participante, debaixo daquele cachecol cor-de-rosa, ao lado da cadela desengonçada, dos ¨sheiks¨ orientais, do tio submisso, da gordinha saudável, do tal sinhozinho poderoso e do pobre cão que se submete às ordens dele?

Essa terapia inovadora funcionará ainda melhor se trocar de ambiente. Aproveite! Conheça todos os parques da cidade! Viaje em muitos livros! Deixe a fertilidade de sua imaginação fluir e quando deparar com alguma cena deprimente, pense o óbvio: como sou feliz. Todo ser humano é um livro, pode não ser um ¨best seller¨, mas dá a sua contribuição para edificação do mundo.

E tem gente que ainda me pergunta o que eu faço no parque... me divirto, oras!

2 comentários:

  1. Por incrível que possa lhes parecer, as descrições físicas dos personagens são reais, só viajei nas histórias. E nem adianta me perguntar, porque esse parque é meu, achem outro para a vossa diversão! rs

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  2. Querida Yara,

    Ouço falar de vc ha mais ou menos 32 anos quando por uma enorme felicidade fui trabalhar ao lado de sua irmã Monica. De longe acompanhei um pouco de sua trajetória na vida. Que surpresa agradável te encontrar neste blog e que talento vc tem para cronicas... Rato de livrarias como sou, ávida devoradora de livros estou adorando ler suas adoráveis criações. Virei freguesa. Um enorme beijo a vc e sua/seu filhote. Ana,hoje a Campineira.

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