Há dias que você sai de casa para executar uma tarefa comum, sem esperar nada grandioso ou que lhe traga alegria.
Quase no automático me dirigi ao ponto de ônibus arrastando um carrinho de corujas, para ir lá na zona cerealista comprar minhas farinhas integrais, meus condimentos, e outras coisitas que pago bem mais em conta por lá.
Adoro ir curtindo o caminho que já conheço bem, mas sempre reparo em algo diferente, que mudou mesmo, ou que nunca tinha reparado antes. Nada de extraordinário, até chegar à Casa do Arroz Integral, uma das minhas lojas prediletas, porque é bem organizada, os atendentes são sempre atenciosos e a ordem de atendimento é bem clara.
Peguei meu número, como sempre e rapidamente foi chamado por um simpático rapaz, que me deu bom dia e continuou falando alto aos demais clientes da loja:
- Prestem atenção à chamada das senhas.
Todo produto que pedi me deu prova, ofereceu para o cliente do lado e de tempo em tempo, tornava a falar bem alto pata ficarem atentos a chamada, sempre com frases simpáticas.
Voz bonita, boa entonação, mas o que mais me surpreendeu é que além de não ser obrigação dele, ainda o fazia com alegria, como se fosse a sua tarefa predileta e o melhor serviço do mundo.
Quase no final do atendimento, um dos colegas atendentes encostou nele na balança e falou algo que meus ouvidos distraídos não escutaram, mas a resposta do meu atendente favorito veio imediata e curta:
- A gente ganha pouco, mas temos que ser feliz!
Essa frase e o jeito que ele arrumou de ser feliz ficaram grudados no meu cérebro... devaneios, recordações, vivências, tudo foi se misturando.
E, por conta desse filósofo experimental, minha sexta-feira ficou muito melhor, nem o temporal do final da tarde, que me fizeram ficar quase duas horas no ponto de ônibus, com os pés e pernas encharcados, nem o imbecil do motorista que passou na beirada da calçada me dando um banho de água suja me perturbaram ou me deixaram mal humorada, porque eu estava a caminho da faculdade, para mais um encontro com meus alunos, os poucos que resistiram a faltar em plena sexta-feira de carnaval.
Fica o registro, nada pode nos impedir de ser feliz, acenda seu lampião.
Sinceramente, ainda que tenha comprado um bom provimento, não vejo a hora de voltar lá e ver o moço sendo um bom profissional e feliz.
Por: Yara Verônica Ferreira
Por: Yara Verônica Ferreira