À vezes ela sibila
palavras, como se quisesse falar baixinho em meu o ouvido e me deixo seduzir.
Penetro em sua tristeza e compartilho do seu torpor. Ela grita e meus ouvidos
querem mais, aumento o som. Ela canta suavemente e me entrego, compartilho.
Aprendo a letra, tento cantar junto, mas ela não deixa... esse momento é dela e
eu invado sua intimidade, o suficiente para saber que uma voz como essa já não
está mais aqui. Então choro!
Ela nasceu, 19 em
janeiro de 1943, numa sólida família de classe média, na cidade de Port Arthur,
localizada no Estado do Texas, nos Estados Unidos da América. Com apenas 17 anos já retratava o gosto pelos
sons do blues e do folk em pinturas e poesias e levantava aplausos nos bares de
Houston e Austin, no Texas. Realizou seu sonho em 1965 e foi cantar na
Califórnia, mas em 1966, desempregada,
voltou para Austin e cantou em uma banda country por alguns meses. Depois
disso, o amigo que se tornou seu empresário, Chet Helms, levou-a para a banda
Big Brother, que tocava em San Francisco. E, foi junto dessa banda, que ela
conheceu o empresário Albert Grossman, após o show no “Monterey Pop Festival”,
em 1967. Quando a platéia ficou extasiada durante sua interpretação para a
música “Summer Time”, sendo a seguir contratada pela gravadora Columbia
Records. Ela já disparava rumo ao sucesso, cuja sina de ser inesquecível estava escrita
na força de expressão contida em sua voz.
Era a única cantora
branca da época que, com sua voz rouca e sensual, se atrevia a cantar blues feito uma negra. Debaixo de críticas entusiasmadas e outras nem tanto, o albúm
“Cheap Thrills” foi um recorde de vendas.
Em 1969, a
comunidade hippie se reuniu no maior de todos os festivais de rock, o
“Woodstock”. Janis Joplin marcou seu espaço junto a outros cantores de sucesso
como Joan Baez, Santana Joe Cocker, Jimi Hendrix e outros que viviam a era
hippie, com suas roupas coloridas, simples e soltas, típicas da geração paz e
amor.
Após o sucesso do primeiro LP com os Big Brothers, a
gravadora Columbia Records assinou contrato e o álbum Cheap Thrills, com o
single "Price of My Heart", conquistou o disco de ouro. Passado um
ano, Joplin resolveu deixar os Big Brother, mas participou de algumas faixas do
álbum deles, “Be a Brother”, lançado em 1971. Seguia sua carreira, nessa mesma
época, com o guitarrista Sam Andrew. Compuseram então a segunda banda, que foi
denominada de Kozmic Blues, um de seus sucessos musicais, composta por Janis
Joplin e Gabriel Mekler.
Ela possuía tudo
aos olhos de quem a via sobre um palco, mas se sentia feia e chegava a
considerar sua voz insossa, sem encanto, mesmo uma multidão vibrando em suas
apresentações, como revela, na biografia “Love, Janis”, escrita por sua irmã e
psicoterapeuta, Laura Joplin.
No momento de
enfrentar a platéia ela vestia uma coragem que não lhe pertencia e hipnotizava
a platéia, não se contentava se não participassem daquele momento que lhe era
tão precioso, onde poderia se encher de rebeldia contra seus próprios
sentimentos e soltar a voz.
Comedimento era uma
palavra fora do seu vocabulário, ela se entregava ao amor, à música, às drogas,
às amizades, numa ânsia desesperada de encontrar conforto. Certa vez sua mãe
lhe perguntou porque gritava tanto, sendo que tinha uma voz tão bonita e Janis
disparou a resposta: “- Para você sentir o que eu sinto!”, relatou Myra
Friedman, companheira de trabalho de Janis durante grande parte de sua
carreira, no livro “Enterrada viva”, outra biografia que revela alguns momentos
da vida de Janis.
Há quem diga que
ela é a rainha imortal do rock, mas no fundo, a espécie de música que ela
entoava era algo só dela, não se classificava entre os já conhecidos tipos. Ora
ela se envolvia num blues, ora se entregava à alegria do country, ora cantava
num tom debochado, ora sussurrava como a dividir segredos. Mas apesar de sua
versatilidade musical, na década de 60, Janis era a rainha branca do blues.
A escritora Alice
Echols escreveu no livro “Scars of sweet paradise”, que no Brasil foi
batizado de “Janis Joplin: uma vida. Uma época”, que Janis queria casar e ter
filhos e assim, andava entusiasmada em 1970, falando em se casar-se. Estava
cantando com a banda Full Tilt Boogie e ia produzir o álbum Pearl (que
era seu apelido). Mas em 4 de outubro de 1970, o
corpo de Janis Joplin foi encontrado sem vida com picadas de agulha recentes no
braço, num quarto do Hotel Landmark, em Hollywood.
No obituário consta
que a injeção de heroína fora aplicada pela própria Janis, mas concluía que a morte foi
involuntária por aplicação de dose de droga excessiva, mas algumas pessoas e
veículos de comunicação interpretaram como suicídio, o que levou o empresário,
Jonh Cooke, a ficar indignado, porque não acreditava que ela tenha desejado se
suicidar.
Ela morreu aos 27 anos, três meses após a morte de
Jimi Hendrix. Foi cremada e realizaram seu desejo jogando as cinzas na costa da
Califórnia. Mas sua obra e figura imortal continuou a ser reproduzida em CD´s,
filmes, livros, sites, comunidades, revistas, camisetas e jovens que sequer
conhecem sua história, fecham os olhos ao ouvir suas músicas, depois saem a
buscar resquícios de sua voz pelo mundo. O maior sucesso em sua discografia
aconteceu dois meses após sua morte, com o LP "Mee and Bob McGee",
como prova de sua imortalidade.
No filme The Rose,
gravado em 1979, estrelado por Bette Midler, foi feito um relato de sua
carreira, tomando por base o teor do livro “Enterrada Viva”. Com tantas obras como biografias, filme e relatos que surgem
de fontes diferentes e fidedignas, como da irmã ou da amiga que trabalhou junto
a ela, talvez já se possa conhecer um pouco mais de Janis Joplin, mas nunca
chegar à real e imortal Janis. Compreender
as letras de suas músicas é como desvendar o ser humano escondido em sua voz,
porque as músicas de Janis Joplin não foram feitas para serem ouvidas, mas
sentidas.
Por: Yara Verônica Ferreira
DISCOGRAFIA:
Essential Janis
Joplin (2003)
Love, Janis (2001)
Super Hits (2000)
18 Essential Songs (1995)
Cheaper Thrills (1984)
Farwell Songs (1982)
Janis (1975)
Greatest Hits (1973)
In Concert (1972)
Pearl (1970)
Cheap Thrills (1968)
NOTA DA AUTORA: Texto baseado em pesquisas realizadas em 2003, editado em 16/11/2013.
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