Por: Yara Verônica Ferreira
Antes de ficar grávida,
milhões de coisas passaram pela minha cabeça. Quando ainda criança
eu sonhava em ter uma linda menininha, para amarrar fitas vermelhas
em sua longa trança (trança que eu mesma não tive, porque minha
mãe cortava meu cabelo à moda Joãozinho). Queria que ela tivesse
muitas bonecas e inúmeros amiguinhos para brincar. Mas quando senti
a barriga crescer não queria mais a linda menininha, que se chamaria
Natalye, pois meu coração batia forte pelo Fernando.
Ouvi o grupo Abba cantar este
nome por
muito tempo, inúmeras
vezes, e sua sonoridade
me fazia sonhar. Sonhei ter um grande amor com esse nome, mas que
nada, só apareciam paqueras com nomes completamente diferentes e
até muito estranhos.
Então, o jeito era ter um filho para chamá-lo de Fernando.
Pus você no mundo, com certo
pesar, pois era tão bom poder carregá-lo na minha barriga, para
cima e para baixo, que diferentemente de todas as mães ansiosas para
ver a carinha de seus filhos, eu queria apenas senti-lo dentro de
mim. Nesses meses todos de espera você era só meu, só eu o sentia,
só eu podia manter uma conversa tão íntima contigo e ninguém nos
ouviria. Mas chegou a hora, eu relutei, fiquei muitas horas em
trabalho de parto... rsrs... e por conta de querer reter você dentro
de mim, sofri muitas dores. Mas não faz mal, pois assim eu ainda
tive tempo de te sentir mexer lá dentro por muitas horas. Dez horas
e cinquenta
minutos de vinte de fevereiro de mil, novecentos e oitenta e sete...
não tive mais como te segurar, agora você era do mundo!
Foi nesse momento que comecei a
ficar órfã de você, meu filho. Não só porque bebês crescem
rápido, mas porque passam a fazer parte da vida de outras pessoas:
primo que quer segurar no colo toda hora, parentes que vêm visitar,
futuros padrinhos que nem sabiam
que seriam,
mas já amavam
como um pedaço deles
também.
E assim, independente de meus
sonhos, logo deu
seus primeiros passinhos e se tornou
tagarela e estabanado, caindo e se reerguendo com os primeiros
sorrisinhos de vitória estampado nos lábios.
Cresceu
sem esperar nenhuma licença materna. E, de repente, já estava
caminhando com passos firmes e repetindo palavras, pronunciando
frases completas e muitas vezes inovadoras: quéio quica; dá boio;
quéio tuco; ete não, quero uma buqueca...
Ah! Essas malditas horas que se
impõem e nos roubam o tempo que temos de curtir cada minuto do
desabrochar de um ser tão especial. Mas todo final de tarde, ao
contrário do suplício da manhã, quando tinha que lhe deixar, o
coração acelerava,
poderia
estar de novo te rodeando, curtindo seus gritinhos de euforia porque
mamãe chegou ou porque achou uma balinha na minha bolsa.
Mas uma jovem e livre mãe
precisava
de momentos de diversão. É hora de dizer tchau... são só algumas
horas da noite, enquanto estará dormindo, mas é incompreensível
que eu saia sem te levar no colo, então dou longas explicações que
não posso te levar para dançar, porque menores de idade não entram
no lugar onde a mamãe vai. “– Mas quando eu crescer, então você
me leva junto, né?” Amado filho, quando você crescer é você que
não vai querer que a mamãe vá com você! E
eu ria, enquanto você me olhava desconfiado por achar que estava
sendo enganado!
O tempo vai passando tão
rápido! Não dava tempo de fazer diário de bordo porque logo éramos
lançados a bombordo.
E você
foi crescendo meio amestrado, observando e aprendendo com meus
acertos e erros. Principalmente com
os erros, que espero
que não se repitam na sua caminhada.
Mas toda mãe vai ficando
um pouco órfã do próprio filho. Não mais o levo
nas portas das festas,
nem na
natação ou
na escolinha.
Agora você está no
volante de sua própria vida.
Ainda sinto como se não
tivesse ouvido
sua respiração o
suficiente, não tivemos todas as
conversas que devíamos
ter, nem desfrutamos de todos os momentos grudados e aí está você,
caminhando em outras direções, vivendo momentos só seus...
Há mães que dizem perder a
graça depois de adultos, que já não são engraçadinhos, nem
carinhosos, mas acho que essas mães devem ter algum problema, porque
em todas as idades um filho é um ser que nos dá tantas alegrias,
que nos proporciona emoções infindáveis. Você cresceu e muito,
mas meu afeto nunca se esgotará, sempre
acharei motivos para contar nossas histórias e de exibir os seus
grandes feitos.
Há mães que dizem que os
filhos somem, nem saudades sentem, mas cada vez que você diz que vai
passar aqui para ver as suas gordinhas, Leona e eu já entramos
num
espírito de festa tão
doido e inexplicável.
Nada sei, mas posso dizer com
convicção que amo o
filho que gerei, mas,
sequer sei se aprendi a ser mãe!