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sábado, 31 de março de 2018

Título? Sei lá! Ser mãe, talvez...


Por: Yara Verônica Ferreira

Antes de ficar grávida, milhões de coisas passaram pela minha cabeça. Quando ainda criança eu sonhava em ter uma linda menininha, para amarrar fitas vermelhas em sua longa trança (trança que eu mesma não tive, porque minha mãe cortava meu cabelo à moda Joãozinho). Queria que ela tivesse muitas bonecas e inúmeros amiguinhos para brincar. Mas quando senti a barriga crescer não queria mais a linda menininha, que se chamaria Natalye, pois meu coração batia forte pelo Fernando.

Ouvi o grupo Abba cantar este nome por muito tempo, inúmeras vezes, e sua sonoridade me fazia sonhar. Sonhei ter um grande amor com esse nome, mas que nada, só apareciam paqueras com nomes completamente diferentes e até muito estranhos. Então, o jeito era ter um filho para chamá-lo de Fernando.

Pus você no mundo, com certo pesar, pois era tão bom poder carregá-lo na minha barriga, para cima e para baixo, que diferentemente de todas as mães ansiosas para ver a carinha de seus filhos, eu queria apenas senti-lo dentro de mim. Nesses meses todos de espera você era só meu, só eu o sentia, só eu podia manter uma conversa tão íntima contigo e ninguém nos ouviria. Mas chegou a hora, eu relutei, fiquei muitas horas em trabalho de parto... rsrs... e por conta de querer reter você dentro de mim, sofri muitas dores. Mas não faz mal, pois assim eu ainda tive tempo de te sentir mexer lá dentro por muitas horas. Dez horas e cinquenta minutos de vinte de fevereiro de mil, novecentos e oitenta e sete... não tive mais como te segurar, agora você era do mundo!

Foi nesse momento que comecei a ficar órfã de você, meu filho. Não só porque bebês crescem rápido, mas porque passam a fazer parte da vida de outras pessoas: primo que quer segurar no colo toda hora, parentes que vêm visitar, futuros padrinhos que nem sabiam que seriam, mas já amavam como um pedaço deles também.

E assim, independente de meus sonhos, logo deu seus primeiros passinhos e se tornou tagarela e estabanado, caindo e se reerguendo com os primeiros sorrisinhos de vitória estampado nos lábios.

Cresceu sem esperar nenhuma licença materna. E, de repente, já estava caminhando com passos firmes e repetindo palavras, pronunciando frases completas e muitas vezes inovadoras: quéio quica; dá boio; quéio tuco; ete não, quero uma buqueca...

Ah! Essas malditas horas que se impõem e nos roubam o tempo que temos de curtir cada minuto do desabrochar de um ser tão especial. Mas todo final de tarde, ao contrário do suplício da manhã, quando tinha que lhe deixar, o coração acelerava, poderia estar de novo te rodeando, curtindo seus gritinhos de euforia porque mamãe chegou ou porque achou uma balinha na minha bolsa.

Mas uma jovem e livre mãe precisava de momentos de diversão. É hora de dizer tchau... são só algumas horas da noite, enquanto estará dormindo, mas é incompreensível que eu saia sem te levar no colo, então dou longas explicações que não posso te levar para dançar, porque menores de idade não entram no lugar onde a mamãe vai. “– Mas quando eu crescer, então você me leva junto, né?” Amado filho, quando você crescer é você que não vai querer que a mamãe vá com você! E eu ria, enquanto você me olhava desconfiado por achar que estava sendo enganado!

O tempo vai passando tão rápido! Não dava tempo de fazer diário de bordo porque logo éramos lançados a bombordo.

E você foi crescendo meio amestrado, observando e aprendendo com meus acertos e erros. Principalmente com os erros, que espero que não se repitam na sua caminhada.

Mas toda mãe vai ficando um pouco órfã do próprio filho. Não mais o levo nas portas das festas, nem na natação ou na escolinha. Agora você está no volante de sua própria vida.

Ainda sinto como se não tivesse ouvido sua respiração o suficiente, não tivemos todas as conversas que devíamos ter, nem desfrutamos de todos os momentos grudados e aí está você, caminhando em outras direções, vivendo momentos só seus...

Há mães que dizem perder a graça depois de adultos, que já não são engraçadinhos, nem carinhosos, mas acho que essas mães devem ter algum problema, porque em todas as idades um filho é um ser que nos dá tantas alegrias, que nos proporciona emoções infindáveis. Você cresceu e muito, mas meu afeto nunca se esgotará, sempre acharei motivos para contar nossas histórias e de exibir os seus grandes feitos.

Há mães que dizem que os filhos somem, nem saudades sentem, mas cada vez que você diz que vai passar aqui para ver as suas gordinhas, Leona e eu já entramos num espírito de festa tão doido e inexplicável.

Nada sei, mas posso dizer com convicção que amo o filho que gerei, mas, sequer sei se aprendi a ser mãe!