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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Fragmentos ou devaneios?

Fragmentos ou devaneios?
Por: Yara Verônica Ferreira


Buscamos nas palavras um elixir para a cura de nossos anseios.



Na minha concepção, relatar um fato ou escrever é como gerar um ato de amor, tem que ser como a mulher encara uma relação sexual... É o fazer amor. Vista sua porção feminina e faça amor com suas palavras, sejam elas sobre pessoas ou coisas. E esse processo de sentir as palavras vale para qualquer texto.
E me perdoem se há homens tão sensíveis quanto às mulheres aqui.


Eu só tenho uma caixa de palavras cheia de amores perdidos...


Caiu
quase no mesmo espaço
sem mapa
tocou
sob as mãos: o traço
a curva
o delírio


respiro
suspiro
recolho desejos...
ponho em pensamentos
os momentos que ainda vou viver
viajo
reitero desejos
perverso medo
do que não vai ser



A vida passa rápido, não espera seus devaneios tomarem rumo certo e o senhor tempo não perdoa sua falta de tempo para viver. A hora certa é sempre o agora.




quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Ai que saudade do sol de Maceió

Não é só de ficar tostando ao sol que sinto falta. As paisagens eram um bálsamo para o cansaço do cinza do céu de São Paulo. Aquela frase batida sobre certas coisas não terem preço, percorrerá sempre muitos caminhos e situações. Mas pense num café da manhã regado a muitos pratos típicos do nordeste e no embalo do tal do forró pé de serra! E os sucos? Mangaba, umbú, cajú e muitos outros, mas o meu predileto é o de graviola.

Saudade de viajar é uma constante, mas, quando não posso por o pé na estrada, viajo em palavras, imagens gravadas na mente e lá vou eu me refrescar sob o sol de Maceió ao som de Flávio José: "Cabeça doida, coração na mão / Desejo pegando fogo / E sem saber direito a hora e o que fazer / Eu não encontro uma palavra só pra te dizer..."

Será que você nasceu para ser o que é?

Yara Verônica Ferreira

Desde criança eu escrevia os meus próprios textos, copiava poesias e textos de livros, reescrevia textos e reportagens dos outros e sonhava com meu nome na capa de um livro... Ainda amo escrever, mas troquei a cópia de poesias e textos dos outros por conhecimentos mais técnicos, escrevendo reportagens, artigos e textos que são usados em aulas... Até sinto saudade do meu eu cheio de palavras minhas! Sinto falta de escrever sobre histórias de vida, de ocorrências do dia-a-dia e de sentimentos alheios ou não.

Aí você revela tudo isso ao filho e ele solta o que muitos te diriam, até você mesma:
[10:48, 16/11/2017] Fe: Porque não volta a escrever ?
[10:48, 16/11/2017] Fe: Precisa encontrar o que te motivava.

Na fase crianca, muitas vezes o que me fazia escrever sem parar era a vida vazia de futuro, o não saber que caminho trilhar, o que realmente eu havia nascido para ser, afinal?

Depois veio o maior sonho realizado: o filho - porque este sonho era o mais claro sobre a minha visão de futuro. Aí veio o terceiro maior sonho: jornalismo, aí, eu escrevia tanto, sem parar... Passava o dia todo esperando a hora de ir para a faculdade, sentar na primeira fila, o mais próximo possível do palco dos professores para sugar cada palavra, cada compartilhamento de vida, de emoções, de conhecimentos... Vida? Emoções? Sim, é isso mesmo, professores sempre compartilham suas vidas e suas emoções conosco, fiquem atentos, aproveitem... Mais adiante você, ex-aluno se lembrará desses momentos e dirá: que saudade!  

O que será que me fez pensar em tudo isso justo hoje? Um pouco da história que contei, há um bom tempo, sobre a Janis Joplin

Ainda na faculdade fui convidada a escrever de graça para um site sobre cultura, que eu amava, mas, saiu do ar. Aí reli o texto, descobri que cometi aguns erros de ligação nas frases, mas, nada que tenha apagado o brilho da história e das emoções que senti ao pesquisar e escrever sobre a Janis.

Mas, a frase de meu filho: “Precisa encontrar o que te motivava.”, me fez lembrar de outra frase do meu coordenador durante uma reunião de início de semestre: por que escolheu ser professor?

Mas, no fundo, ser professor era um sonho que eu nem sabia que era tão forte, porque abandonei quando tentei estudar para dar aula para crianças: não estava preparada.

Muitas vezes não percebemos as dicas que a vida nos dá... Eu demorei a perceber, mas durante todo tempo puseram pessoas no meu caminho que eu ajudei de alguma forma, treinando para o trabalho ou ajudando nas escolhas de carreira e demorei pra me tocar que esse era o motivo de eu estar na terra: ser uma parte da vida de jovens, ajudá-los a realizar os sonhos que eram só deles. Agora estou sendo o que nasci para ser. Estou diariamente observando e  cutucando meus alunos para aprenderem a chegar onde querem... Quando olho para o meu passado, me pergunto o porquê de eu não ter tido um mentor, alguém que me guiasse, me senti muito órfã no passado, no entanto, era o caminho que eu tinha que trilhar para entender que nasci para ser o que ninguém foi para mim: um guia para ajudar na trilha do futuro...

Quando vi a vida passando muito rápido, dei um basta nos meus devaneios e pus eles no prumo, comecei a estruturar minha vida de forma a poder ser o que nasci para ser: mãe, jornalista, professora, mentora... Inúmeras vezes ouvi pessoas declarando ódio ao seu trabalho ou à sua profissão, ou ao curso que escolheu e é bem verdade que ninguém consegue estar 100% satisfeito o tempo todo, e, se estiver se sentindo frustrado e com raiva de tudo ao seu redor, pare e faça algo por si mesmo:
1º) Pegue uma folha em branco e faça duas colunas, uma de positivo e outra de negativo, será que preciso explicar como prosseguir nesta lição de casa? Bom, se precisar, é só deixar seu pedido de socorro nos comentários.
2º) Agora é hora de brincar de se auto-entrevistar:
O que eu quero ser?
Por que eu quero ser?
Quando eu quero ser?
Como eu quero ser?
Onde eu quero ser?
Para quem eu quero ser?
O que falta eu aprender para ser o que eu quero ser?
O que vou fazer para ser o que eu quero ser?

Se não souber responder nenhuma dessas perguntas, está na hora de cortar seus momentos de devaneios e se por no prumo, porque só nós somos os senhores de nossas vidas e os guias de nossos lemes. E o senhor tempo não perdoa sua falta de tempo para se por no prumo e fazer suas escolhas. A hora certa é sempre o agora.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Acenda seu lampião

Há dias que você sai de casa para executar uma tarefa comum, sem esperar nada grandioso ou que lhe traga alegria.

Quase no automático me dirigi ao ponto de ônibus arrastando um carrinho de corujas, para ir lá na zona cerealista comprar minhas farinhas integrais, meus condimentos, e outras coisitas que pago bem mais em conta por lá.

Adoro ir curtindo o caminho que já conheço bem, mas sempre reparo em algo diferente, que mudou mesmo, ou que nunca tinha reparado antes. Nada de extraordinário, até chegar à Casa do Arroz Integral, uma das minhas lojas prediletas, porque é bem organizada, os atendentes são sempre atenciosos e a ordem de atendimento é bem clara.

Peguei meu número, como sempre e rapidamente foi chamado por um simpático rapaz, que me deu bom dia e continuou falando alto aos demais clientes da loja:

- Prestem atenção à chamada das senhas.

Todo produto que pedi me deu prova, ofereceu para o cliente do lado e de tempo em tempo, tornava a falar bem alto pata ficarem atentos a chamada, sempre com frases simpáticas.

Voz bonita, boa entonação, mas o que mais me surpreendeu é que além de não ser obrigação dele, ainda o fazia com alegria, como se fosse a sua tarefa predileta e o melhor serviço do mundo.

Quase no final do atendimento, um dos colegas atendentes encostou nele na balança e falou algo que meus ouvidos distraídos não escutaram, mas a resposta do meu atendente favorito veio imediata e curta:

- A gente ganha pouco, mas temos que ser feliz!

Essa frase e o jeito que ele arrumou de ser feliz ficaram grudados no meu cérebro... devaneios, recordações, vivências, tudo foi se misturando.

E, por conta desse filósofo experimental, minha sexta-feira ficou muito melhor, nem o temporal do final da tarde, que me fizeram ficar quase duas horas no ponto de ônibus, com os pés e pernas encharcados, nem o imbecil do motorista que passou na beirada da calçada me dando um banho de água suja me perturbaram ou me deixaram mal humorada, porque eu estava a caminho da faculdade, para mais um encontro com meus alunos, os poucos que resistiram a faltar em plena sexta-feira de carnaval.

Fica o registro, nada pode nos impedir de ser feliz, acenda seu lampião.

Sinceramente, ainda que tenha comprado um bom provimento, não vejo a hora de voltar lá e ver o moço sendo um bom profissional e feliz.

Por: Yara Verônica Ferreira

O meu Rei Momo

Quando ainda pequena, vê-lo com a coroa e o cetro era como um sonho que eu queria levar para a vida adulta.

Minha mãe confirma que eu tinha cinco anos quando me levaram a primeira vez para ver os desfiles de carnaval, que naquela época ainda aconteciam na Avenida São João, pertinho do Anhangabaú.

Eu amava o som da bateria, meu coração parecia bater no mesmo compasso. Desde muito pequena tinha consciência plena desse amor pela cadência do samba e que me fazia sentir uma pequena rainha.

Por sorte, meu pai era amigo do Rei e sempre ficava pertinho dele. Sentia um orgulho imenso de conhecer e poder ouvir o Rei tocar o surdo ou a cuíca, de olhos fechados, sentindo a música como eu mesma sentia no meu coração.

Minha mãe sempre fala orgulhosa que desde a primeira vez que me levaram no sambódromo, eu dormia nos intervalos, mas quando ecoava o primeiro som da bateria ao longe, eu já me punha de pé sambando. Até hoje, meus pés parecem ter vida própria quando ouvem o batuque do samba.

O Rei Momo daquela época era Irineu Pugliesi (http://www.moocaonline.com.br/fotosmooca.htm), nascido no bairro da Mooca, carregou a coroa e o cetro de Rei do Carnaval Paulistano de 1969 a 1983, nada mais justo, já que dominava alguns instrumentos musicais e tocava como jamais ouvirei alguém tocar igual. Eu já era adolescente e ainda brilhavam meus olhos de orgulho e alegria por vê-lo naqueles trajes.

Sempre me imaginei sendo rainha um dia e que Irineu ainda fosse o Rei Momo, o que nunca aconteceu, mas, meu coração sempre pulsa forte no primeiro retumbar da bateria e as lágrimas são inevitáveis. Alegria, saudade, emoções que mal sei explicar em palavras.

Só sei que me sinto muito feliz, porque esse Rei ainda existe!

PS) Escrevi essa micro história em 2013, mas na verdade é uma longa história, daquelas que só meu coração sabe o quanto foi importante em minha vida, só posso dizer que foi uma amizade eterna e marcante que realmente começou na minha mais tenra infância e ainda mora em meu coração e sei que no dele também.

Por: Yara Verônica Ferreira